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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Em uma outra dimensão

Caros leitores, queridas leitoras,

Quando abri essas hipercúbicas dimensões há cinco anos e 838 posts atrás, eu não tinha ideia de que tal empresa seria tão longeva. Aliás, eu até mesmo me contentava se conseguisse uma dúzia de leitores. Hoje, tendo quase uma centena deles, que me acompanham (via Facebook ou via Google), eu não poderia estar mais feliz. Mas não se assustem com o tom deste nem com o título. Não é o fim do hypercubic — é um recomeço.

Há alguns (dois?) meses eu recebi uma proposta do Kentaro Mori (autor do Ceticismo Aberto, dos 100 Nexos e da Dúvida Razoável), do qual, aliás, sou grande fã. Ele estava começando a expandir o ScienceBlogs Brasil e, tendo gostado do hypercubic, pediu-me para levar este “hyperespaço de ideias” para aquele universo blogo-científico. Eu não podia estar mais feliz. Porém, como é típico de mim, também fiquei “um pouco” inseguro, já que é uma grande mudança, inclusive (e principalmente) de plataforma de publicação. Até agora o blogger/blogspot foi minha única experiência de blogagem. Confesso que esse foi meu maior motivo de hesitação.

O que mais me alegra, porém, é que embora nunca tenha tido grande publicidade — exceto uma ou outra aparição em agregadores como o Ueba ou o Ocioso —, muito menos anúncios, eu conseguira me destacar apenas pelo conteúdo (e, este ano, talvez, pelo visual). A essa altura, na verdade, vocês já deveriam ter lido um texto mais ou menos como esse, pois segundo o acordo, a mudança já deveria ter sido feita em novembro.

Entretanto, vicissitudes de fim de semestre (e um estômago um tanto inoperante) me atrapalharam deveras. Agora, neste fim-de-semana, o hypercubic vai finalmente partir para uma outra dimensão e fará parte do ScienceBlogs Brasil como “uma dimensão a mais”. Por isso, excepcionalmente não teremos (creio eu) postagens para sábado e domingo. Aos que acompanham a série “Patentes Patéticas”, não se desesperem: ela volta na semana que vem. Outras séries como “Em uma palavra” continuam e — graças às férias — também devem voltar as séries mais profundas: os “Conflitos Esquecidos” e o “Peso do Nome”.

Agradeço profusa e profundamente os leitores que hoje me acompanham — mesmo que não comentem tão frequentemente quanto eu gostaria — e espero que continuem me acompanhando, de uma maneira ou de outra. Aliás, aos leitores que me seguem via Google Friend Connect, recomendo que passem a seguir o hypercubic através de nossa página no Facebook, já que agora eu vou deixar o sistema de publicação do Google. Aos demais e aos que têm o hypercubic entre seus favoritos, a nova URL deverá ser essa: http://scienceblogs.com.br/hypercubic/.

Por fim, mesmo sabendo que esse é um clichê pra lá de gasto, eu gostaria de dizer que sem vocês, SEUS LINDOS, o hypercubic já teria se desintegrado há muito. Seriously.

Um grande abraço aos leitores, beijos às leitoras e até breve!

O fim do mundo chega a Doel

(Flickr/ardenswayoflife)

O fim está próximo — mas apenas para uma pequena cidade na Bélgica. Doel está marcada para ser completamente demolida e não passará de 2012. O motivo? Ampliar o maior porto do país. Nem os protestos dos moradores nem a incrível street art foram capazes de impedir a destruição que se aproxima.

(Flickr/Wolfensteijn)

Ao longo de 700 anos, Doel foi uma pacata vizinha de Antuérpia, da qual é separada pelo Rio Schelde. No século XIX, chegou a ter mais de 2.500 habitantes. Mas ao longo do século XX, Antuépia crescia cada vez mais, o que começou a ameaçar a existência da vila vizinha. O governo vem tentando forçar a saída dos residentes de Doel com demolições agendadas desde o fim dos anos 1960. Legalmente falando, Doel já morreu: a cidade deixou de ser um município independente em 1977, quando foi incorporada ao município de Beveren.

Durante quase duas décadas, os protestos e a resistência dos “doelitas” foi mais forte. Até que, em 1999, o destino da cidadezinha foi definitivamente selado. Desde então seus habitantes vêm abandonando-a lentamente. A escola, por exemplo, foi fechada em 2003, quando havia apenas 8 alunos matriculados. Com espaços cada vez mais livres, artistas de toda a Europa passaram a cobrir os muros e paredes de Doel com seus grafittis.

(Flickr/on1stsite.)
Atualmente, restam menos de 200 habitantes, que devem partir assim que puderem. O governo deve retomar a demolição assim que área for completamente evacuada. Junto com os lares de moradores que foram forçados a sair em nome do progresso, a galeria de street art de Doel será perdida para sempre.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Celeridade Jurídica

Não é exclusividade nossa o abuso do juridiquês, levando a volumosos processos cheios de linguagem pomposa e digressiva (não raro com centenas e até milhares de páginas) que só atrasam os julgamentos. A seguir, apresenta-se uma exceção: a íntegra da decisão juiz J. H. Gillis, da Corte de Apelações de Michigan, sobre o caso Denny v. Radar Industries Inc., 1970.
O apelante tentou distinguir a situação factual deste caso daquela do caso Renfroe v. Higgins Rack Coating and Manufacturing Co., Inc. (1969), 17 Mich.App. 259, 169 N.W.2d 326. Ele não pôde. Nós também não conseguimos [nos convencer]. Custos para o apelado. Cumpra-se.

“É um verdadeiro modelo de brevidade”, comentou um juiz estadual do Arizona. “Se mais decisões judiciais fossem como essa, advogados e juízes que têm de lê-las seriam mais felizes e as florestas estariam mais seguras”, já que seria necessário muito menos papel.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O Cometa-Kamikaze

A atração solar é irresistível. Especialmente quando você é um cometinha de 200 metros de diâmetro. Assim como uma mosca caindo numa armadilha luminosa, o Cometa Lovejoy (C/2011 W3) está se aproximando loucamente do Sol, onde deve ser destruído em meio a um clarão espetacular em algum momento entre os dias 15 (amanhã) e 16 (sexta).

O cometa-kamikaze pode se tornar tão brilhante quanto Jupiter ou Vênus quando for vaporizado. Infelizmente, a luz solar já é tão intensa que ofuscaria tal brilho efêmero. Felizmente, porém, temos observatórios solares no espaço e eles vão ter uma vista “de camarote” por nós. No domingo, o Lovejoy (não deixa de ser um nome sugestivo) entrou no campo de visão da sonda STEREO-B, da Nasa.


“Você pode ver claramente o cometa se aproximando diagonalmente através das imagens”, diz Karl Battams, do Naval Research Lab, que preparou a animação acima. “Durante a sequência de 16 horas, o brilho do cometa passa de magnitude +8 para aproximadamente +6,5.” Quanto menor a magnitude, mais brilhante e visível é um astro.

Logo, o cometa suicida ficará ainda mais brilhante. Segundo Battams, “Este cometa é um verdadeiro rala-sol e vai passar de raspão a cerca de 140.000 km (1,2 raio solar) acima da superfície solar em 15-16 de dezembro”. A uma distância tão próxima (pouco mais de um terço da distância Terra-Lua), o calor infernal da fornalha solar vai evaporar o núcleo de gelo, criando uma nuvem de vapor e poeira cometária que vai refletir bastante luz do Sol. O Observatório Solar e Heliosférico (SOHO) terá a melhor visão.

(via scinerds, via spaceweather)


Update (15/12, 21h30) — Seguem abaixo duas imagens: (I) da situação ao amanhecer do dia de hoje e (II), da trajetória prevista para o cometa  Lovejoy (C/2011 W3).

(I) Situação às 8:30 da manhã de hoje, Hora de Greenwich (6:30 da manhã em Brasília). O cometa é o borrão branco na parte inferior da imagem. O Sol (círculo branco no centro) foi ocultado para não ofuscar a imagem.


(II) Trajetória prevista para o cometa-kamikaze. O perigeu, ponto de maior atração em relação ao sol, está previsto para os 37 minutos e 15 segundos do dia 16/12, Hora de Greenwich (ou em pouco mais de uma hora, no momento em que escrevo isso).
Update, 16/12, 23h — Fomos surpreendidos novamente! O núcleo do cometa Lovejoy se mostrou muito mais duro do que pensávamos. Mesmo com uma grande perda de massa por evaporação, o cometa-kamikaze não se desvaneceu. Após o voo rasante sobre o Sol, continuou sua trajetória rumo às profundezas obscuras do Sistema Solar.



terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Em uma palavra [82]

policresto (po.li.cres.to)
adj. 1. Que é próprio para muitos usos; versátil; multiuso; multifuncional. 2. Por extensão, medicamento útil contra muitas doenças; panacéia. [do grego polukrestos]

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Fotocopiadora portátil (1939)


Inteiramente auto-contida, uma máquina foto-copiadora está agora no mercado. É completa, com câmera com foco ajustável, rolo de papel sensibilizado, mecanismo de corte embutido, que corta o papel no tamanho adequado, e todas as substâncias para a revelação. Quando dobrada para transpote, fecha-se como uma mala. Não é necessário drenar os líquidos. A câmera tem um timer sincronizado com as luzes para desligá-las após a exposição apropriada. O material a ser copiado é posto numa bandeja diante da caixa, que pode ser ajustada verticalmente. Fabricada em dois tamanhos, a unidade maior pesa 68 libras [30,8 kg] e a menor, 38 [17,2 kg]. — Popular Mechanics, agosto de 1939
Do tempo em que fotocópias eram fotos mesmo...

domingo, 11 de dezembro de 2011

A Medida Estética de Birkhoff

Em 1933, o matemático de Harvard George David Birkhoff (1884-1944) chegou à conclusão de que é possível quantificar essa coisa subjetiva chamada beleza. A ideia básica, afirmava ele, é que M = O/C, onde M é a “medida estética”, O é a ordem e C, a complexidade. 

Elaborando esse princípio em fórmulas específicas, Birkhoff definiu o quadrado como o polígono mais agradável e a tríade maior como o mais deleitoso acorde diatônico. Dos oito vasos que ele considerou, uma peça Ming obteve a melhor nota, com M = 0,80. Em matéria de poesia, a abertura de Kubla Khan, de Samuel Taylor Coleridge (1772-1834), seria belíssima, pois tem o valor de M igual a 0,83. Os mesmos princípios, segundo Birkhoff, podem ser aplicados à pintura, à escultura e à arquitetura. Segundo o matemático,
Esse tipo de uso da fórmula leva diretamente a certas máximas estéticas bem conhecidas:
1. Unifique tanto quanto possível, sem perda de variedade (isto é, diminua a complexidade C sem decrescer a ordem O).
2. Alcance variedade tanto quanto possível, sem perda de unidade (isto é, aumento de O sem crescimento de C).
3. Essa “unidade na variedade” deve ser encontrada em diversas partes bem como no todo (isto é, a ordem e a complexidade das partes entram na ordem e complexidade do todo).

“Agora parece-me que”, concluiu ele, “a postulação do gênio em qualquer sentido místico é desnecessária. A fase analítica aparece como parte inevitável da experiência estética. Quanto mais extensiva essa experiência for, mais definida se torna a análise.”

No entanto, a Equação (ou Medida) de Birkhoff não deixa de ser mais uma tentativa inútil de quantificar com precisão matemática o que é belo. Afinal, tanto a “medida estética” quanto a ordem e a complexidade podem ser conceitos extremamente subjetivos e, portanto, difíceis de definir objetivamente e mesmo de quantificar. É muito provável que o que Birkhoff calculou como belo — seja o quadrado ou o vaso Ming —, fosse, na prática, apenas um reflexo de suas preferências pessoais.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Patentes Patéticas (nº. 37)


Você gostaria de ter um animal de estimação para passear, mas não quer saber de problemas como alimentação, carinho, espaço (e muito menos risco de mordidas)? Ou será que você é um troll incurável e deseja testar a sanidade mental de seus amigos com um “cachorro invisível”? Qualquer que seja a sua situação, Daniel J. Klees e Terri Shepherd já têm a solução: a “Guia Sonora”. Isso mesmo, o casal de Mundelin (Illinois), inventou uma coleira especialmente para
criar a ilusão de um animal de estimação imaginário, incluindo uma guia longa e oca, com uma empunhadura em uma extremidade e uma coleira adjacente ao outro fim. No interior da empunhadura, que é oca, está uma bateria e um circuito integrado para produzir uma pluralidade de sons animais. Também no interior da empunhadura há um botão liga/desliga e pelo menos um seletor para o circuito sonoro. Montado por dentro da coleira, na extremidade oposta da guia, está um micro-falante que é conectado através da guia oca ao circuito da empunhadura.
Em vez de mandar a dupla de inventores fazer um teste de sanidade mental antes de qualquer pedido, o Escritório de Patentes dos Estados Unidos aceitou como válida a invenção de tal dispositivo. A Guia Sonora foi registrada sob nº. 5.509.859 em 23 de abril de 1996. 

O texto da patente, aliás, não vai muito além do resumo apresentado acima. Tampouco são esclarecidas as razões que levaram à invenção ou sua possível viabilidade comercial. Cita-se apenas o precedente de um dispositivo similar, patenteado em 1994. No entanto, argumenta-se que o invento anterior não seria útil o bastante por não ser flexível nem contar com emissão sonora.

Há ainda dois apêndices, adicionados em 8 de outubro de 1996: o primeiro corrige a data do pedido do registro, de 29 de julho de 1995 para 29 de junho de 1995; o segundo muda o nome do dispositivo de “Guia Sonora” para “Inovadora Guia Sonora”. Pelo visto, Daniel Klees e Terri Shepherd gostavam de dar trabalho ao pessoal do Escritório de Patentes.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Carta em Branco

Quando se trata de correspondências em tempos de guerra, censura é algo quase natural. Só que o censor nem sempre é alguém de patente superior ou do serviço secreto. Esta carta de William Kyzer, combatente da II Guerra Mundial, é um exemplo disso:
Querido Pai e Carmilita,

Eu estou OK. Os dias voam aqui em





Bem, pode acontecer mais cedo ou mais tarde. Estou rezando por isso. Escreva logo. Não há nada como uma carta do lar. Aqui em

Amor,
Bill

PS - Eles podem censurar essa carta.

Sessenta anos mais tarde após o fim da II Guerra, a correspondência que Kyzer escreveu para a família foi publicada assim mesmo no livro Behind the Lines [Atrás das Linhas], de Andrew Carroll. Carroll explica que nesse caso, a censura foi causada pela preguiça do missivista: “De fato, a correspondência de Kyzer não foi editada de maneira nenhuma. Ele simplesmente detestava escrever cartas e na verdade apenas redigia umas poucas palavras no começo e no fim, de modo que sua família acreditasse que os censores é que seriam os responsáveis por cortar o resto.”

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Intervenção Artística


No começo de maio de 1889, Claude Monet estava quase acabando de pintar a paisagem acima quando um carvalho (seria aquele no topo do morro?) resolveu acintosamente brotar suas folhas durante a primavera. Em vez de simplesmente continuar a pintura sem as folhas (ou de acrescentá-las), Monet começou a pensar sobre como deveria proceder. Poucos dias depois, ele tomou a decisão de procurar o proprietário do terreno onde estava aquele carvalho insolente. No dia 9 de maio, ele escreveu em seu diário:
Estou felicísimo — a permissão para remover as folhas de meu (sic) belo carvalho foi graciosamente acordada! Foi um trabalhão trazer grandes escadas para esta ravina. Enfin, está pronto: dois homens tem se ocupado disso desde ontem. Não é uma façanha conseguir terminar uma paisagem invernal a essa altura do ano?

Seria, Monet — se tivesse sido natural.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Em uma palavra [81]

infonésia (in.fo.né.sia)
s.f., neolog. a incapacidade que alguém pode ter de se lembrar onde encontrou determinada informação; o popular “branco” ou “apagão”. [formado por fusão entre informação e amnésia]

Internésia [internet + amnésia] é uma veriedade mais específica de infonésia: é a incapacidade de se lembrar de determinado site ou endereço da internet (ou de senhas de acesso).

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Rebeldes sem pátria

Líderes dos Estados Confederados da América, Robert E. Lee (1807-1870) e Jefferson Davis (1808-1889) morreram apátridas.

Em 1865, Lee requisitou um pedido de perdão e cumpriu um juramento de anistia, o que seria o bastante para ser perdoado legalmente pelo governo norte-americano. No entanto, os documentos do processo do ex-general confederado acabaram se extraviando e nunca foram reconhecidos. Ao falecer, Lee não era mais um cidadão americano, embora se esforçasse muito pela reconciliação do país e mostrasse arrependimento diversas vezes. Sua situação só foi regularizada mais de um século depois, quando os papéis de seu processo foram encontrados por acaso no Arquivo Nacional e sua nacionalidade foi restaurada postumamente pelo presidente Gerald Ford em 1975.

A situação de Davis foi um pouco mais complicada. Após a queda de Richmond, ele foi preso por alta traição. Ao ser libertado — por uma fiança de 100.000 dólares (mais de 2 milhões em valores atuais) — dois anos mais tarde, sua cidadania foi negada. Ele não poderia ser candidato nem tinha direito a votar. Em contraste com a postura de Lee, Davis insistiu até o fim que o domínio “ianque e negro” sobre o Sul era injusto. O ex-presidente da Confederação também passaria o resto da vida sem pátria e só teria sua nacionalidade restaurada no século seguinte: Jimmy Carter devolveu-lhe a condição de americano em 1978.

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